Realmente o tempo não fez um acordo comigo, foi meu inimigo durante o ano de 2011. É pura enganação afirmar que somos nós quem fazemos o tempo. Ele escorre pelos dedos, lenta e suavemente. Tropeçamos no tempo e ao longo do caminho vamos deixando pedaços. Nada como o cotidiano para adormecer pequenos sonhos, como aquele de fazer um curso de italiano, tão almejado desde os 12 anos de idade, ou aquele de visitar uma cachoeira que na infância era seu refúgio. Enquanto o tempo vai passando por nós, literalmente nos atropelando, somos tomados por um estranho sentimento de descontrole da própria vida. Pensando bem, nem é culpa do tempo, seria injusto jogar todo o peso sob os ombros do "Senhor tão bonito", como diz a canção. O réu em questão é o dia-a-dia, são os compromissos, inúmeros, aqueles que se assumem em busca de um sonho, de um diploma. Eu rompi o acordo com o tempo há 5 anos, quando decidi fazer uma faculdade, seguir um sonho antigo. Com isso, pulei etapas, ganhei olheiras, perdi horas de sono, domingos na fazenda, cinema, os jogos do meu time, livros que adquiri e até hoje só foram adornos de estante, estão empoeirados, mas as páginas permanecem intactas, brancas como as nuvens do céu, inexploradas, me convidando a revisitar esse universo fascinante. Me rendi, ao tocar naquele bloco singelo de papéis, que me seduzia, me convidava. Agora eu posso. Espero. Ah, senhor tempo, fui eu que rompi nosso acordo, eu que o atropelei no caminho, mas os danos foram apenas meus, o senhor continua aí, intacto. Quase não o vi passar, a não ser quando me vejo no espelho. São 23 primaveras agora, um diploma e alguns sonhos: conseguir terminar um livro, fazer um curso de italiano, passar num concurso, ser uma boa profissional... Mas não se preocupe, agora eu sei quais os efeitos de romper o nosso acordo. Por isso reitero, faça um acordo comigo. Não quero apenas vê-lo passar diante dos meus olhos. Espero que ainda haja tempo.