sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nossa despedida


Eu procurei durante esses meses a resposta para o fato de não conseguir te esquecer. Para continuar presa a sua lembrança e me sentir um fantasma, sozinha, desamparada. Procurei descobrir porque me sentia tão vazia e tão cheia do mundo. Queria saber a razão de te lembrar a cada dia, mesmo nos pequenos detalhes.

Hoje eu descobri que pra me livrar desse passado necessitava lembrar de mim, lembrar que estou viva. Precisava me sentir desejada novamente. Precisava que alguém me devolvesse o que você me tirou: a confiança em mim mesma.

Descobri que não preciso me agarrar a essas lembranças, que posso te deixar ir, finalmente, de dentro de mim.

Eu precisava de carinho, de olhar nos olhos de alguém e ver que realmente posso ser enxergada, vista, apreciada. Eu me vi naqueles olhos castanhos, me senti viva de novo quando aqueles lábios tocaram os meus e a dança frenética de nossos corpos entrelaçados me provou que posso seguir em frente.

Me lembrei do quanto é bom ser sentida, ouvida, ser tocada, Não tive pressa. Quis apreciar aquele momento em que me despedia de você. A nossa despedida e o que restou dos sonhos que um dia construí. Tudo por água abaixo e eu ainda sorria. A chuva mansa foi a melodia dessa nossa despedida.

Dou boas vindas a mim mesma novamente. Coração aberto e os olhos limpos para olhar o horizonte, acreditando que eu mereço todos aqueles sonhos. Foi você que nunca mereceu estar neles.

O que será amanhã? Ainda não sei. O futuro é incerto, mas já não tenho medo. Não vou deixar nunca mais um homem roubar o que tenho de mais precioso: eu mesma.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Abrem-se as cortinas, começa mais um festival de hiporcrisia


Respeitável público, é com vergonha que anuncio as boas novas, ou melhor, as péssimas antigas. Continuamos vivendo num país onde ter opinião é entendido como um motivo a mais pra pessoa ter seu discurso desclassificado, como se ainda vivêssemos no período repressivo e tenebroso povoado pelo fantasma da censura e, de certa forma, é assim que as coisas são.

Quanto a você palhaço!Você precisa dizer algo que agrade, sorria, seja engraçado, faça uma piadinha ali outra acolá, mas nada que pise no calo de ninguém, pois veja bem, você não pode ser mais que o bobo da corte, está ali pra entreter, então relaxe e abra mão de suas convicções ao menos enquanto sobe ao palco, quem precisa de convicções? Quem precisa ter senso de justiça quando se tem o riso como arma de alienação de uma massa que não tem acesso a uma série de informações que você teve?

 Preste atenção, eu sei do que digo, não vale a pena porque se você tentar transgredir as regras sabe quem vai se voltar contra você? As pessoas que você tenta inutilmente abrir os olhos e ainda não percebeu que não vai adiantar nada, que é uma guerra na qual você luta sozinho. Renda-se como os outros e vai ser tudo mais tranquilo, na mais perfeita ordem. O que te oferecemos é a moralidade hipócrita e despudorada, onde existem pesos e medidas diferentes dependendo da sua condição financeira e seu lugar na sociedade.

Não queira fazer as pessoas aprenderem a rir de si mesmas. Levamos muito tempo pra transformá-las em vítimas e fazê-las acreditar que se fizerem o que você pede elas estarão se humilhando. Pegue sua filosofia crítica que aprendeste vendo esses programinhas americanos que só ensinam as pessoas a ser rebeldes sem causa e enterre no quintal. As pessoas precisam acreditar que a cultura americana é um lixo, faz bem pro ego, faz elas não se sentirem tão diminuídas, isso é até bom por um lado, elas ficam achando que não pensam como um país subdesenvolvido que quer ser chamado de país em transição, mas onde as pessoas não tem fome apenas de alimentos, carecem não só de nutrientes, mas são subnutridas de sonhos e de uma autopiedade que é necessária para que o sistema continue funcionando.

Então meu caro, quem é você pra querer mudar? Quem é você pra querer desmoronar o que levamos mais de séculos para construir? Você se acha esperto demais, mas vai cair do cavalo. As pessoas não precisam dessa acidez toda, precisam pular o Carnaval, se contentar em ser o país do samba e do bom futebol. Somos  os melhores nessas coisas, não precisamos de pessoas que conseguem pensar sozinhas, elas dão trabalho, vai virar um caos. Definitivamente não.

Seja sensato o bastante, você não quer o bem das pessoas? Pois então, dê cambalhotas e fale de alguma sub-celebridade, dá certo, mas cuidado pra não pegar pesado e para a pessoa não se irritar com você, aqui tudo é processo, se você não se lembra. Faça os magrelos rirem falando dos gordinhos, faça os gordinhos acreditarem que são dignos de riso mesmo e sentirem mais pena de si mesmos. Faça piada com os portugueses é um revide a altura da colonização que assassinou culturas, povos, sonhos. Fará as pessoas se sentirem melhor. Faça piadas com animais, eles não podem te processar, mas tome cuidado com os vegetarianos e com a Sociedade Protetora dos Animais.

Faça a roda girar, de vez em quando a gente pode soltar as correntes e você pode dar uma alfinetada em algum líder mundial por aí, mas não fale do nosso por que ele, assim como o resto da grande massa, vai se revoltar contigo. Isso não vai ser bom pra você, vai por mim.

Por hoje é só, agradeço sua colaboração. E reflita sobre tudo que te disse. Se quiser te arrumo um livro de auto ajuda ou te dou 15 dias na Bahia, você voltará renovado. Isso é Brasil!

(Um cara se levanta da platéia e vai embora pensando "As pessoas vão acabar me vaiando, já que por aqui quem merece aplauso é vaiado e quem é aplaudido merecia vaias, muitas vezes. Mas e daí? Dane-se! Eu não trabalho pelos aplausos...")


Texto dedicado a Danilo Gentili e a todos aqueles que procuram fazer alguma coisa pra mudar a realidade e não se acomodam com essa alienação e a vitimização do brasileiro. 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Os homens da minha vida


Eu sou estranha, admito. Falo pelos cotovelos, falo alto, tenho uma risada grotesca e que me faz ficar envergonhada quando rio em público. Aliás, eu tenho medo das pessoas, me frustrei tantas vezes que agora eu penso muito, reflito antes de deixar alguém ser parte da minha vida, me conhecer. Não porque me ache melhor que as pessoas, não porque me veja frágil e indefesa perante o mundo e sim pelo simples fato de já ter passado por situações que me ensinaram que as coisas deviam ser assim.

Acredito que foi a decisão mais acertada, mas algumas coisas não obedecem a essa lógica que tracei. Algumas pessoas me invadem sem pedir licença e se alojam em mim e por mais que eu queria não consigo tirá-las, arrancá-las e nem negociar os sentimentos que as devoto.

Leoni me invadiu com suas "50 Receitas" uns anos atrás, em dias que nem quero recordar. E até hoje ele me toca, se renova em mim. Seus versos soam como um reflexo das coisas que sinto, e a grande maioria das suas músicas fazem parte do meu dia-a-dia.

Outro que me invade sempre é Hebert Vianna, sempre presente me lembrando que ele transformou em música as dores e anseios de muitos, inclusive a minha.

Pablo Neruda me invade com seus versos inconsequentes, me dilacera a alma com sua sensibilidade e traz de volta a realidade, quando necessário. Suas palavras me tocam e meu desejo é de trazê-lo de volta a vida só para abraçá-lo e agradecer o bálsamo que me fornece nos momentos difíceis.

Álvares de Azevedo traduziu-me em alguns poemas e sou grata e ele que me deu a oportunidade de compreender a mim mesma.

Damien Rice com seu violão afinado e sua voz rouca e suave acalmam e aliviam o peso de alguns dias difíceis.

John Lennon e Elvis vão sempre ser os maiores intérpretes da história pra mim. Cantavam com o coração e vivem na memória daqueles que mesmo que não tenham nascido em suas épocas sentem como se eles cantassem hoje, a música rompe as barreiras do tempo, da vida e da morte.

Esses são os homens da minha vida, que me atravessam, me fazem rir, chorar, aqueles de quem não abro mão, que nunca me conheceram, mas que em suas letras e versos traduziram os sentimentos,anseios, dores e amores de uma alma feminina inconstante e confusa como a minha.

Ouvindo "Quase um segundo" de Os Paralamas do Sucesso e pensando que um dia alguém vai me tocar mais fundo que todos eles juntos e daí eu vou entender o que é ter um amor correspondido, finalmente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Das coisas que ficam


Recordar é viver, já dizia o poeta. Mas viver preso a recordações é aprisionar-se nas grades do passado, onde não se consegue enxergar o futuro, a não ser por umas frestas de luz. Mas tem certas coisas que ficam, certas coisas que marcam e que não se apagam da memória.
Eu achei a foto do meu primeiro amor, dentro de um caderno, nem ele sabe que tenho essa foto. Acho que foi o sentimento mais doce e puro que eu já vivi, da forma mais inocente, a forma como me olhava, como me sentia protegida só com aquele olhar carinhoso dele... Passou, eu tinha 12 anos, e de lá pra cá se foram mais quase 10 anos, mas eu não quero rasgar a foto, ou simplesmente jogar fora, ela faz parte de um passado que eu quero lembrar, quero nunca esquecer que eu mereço sim ser amada, que eu mereci cada olhar terno e amoroso que recebi dele e que mesmo sendo uma criança naquela época, ele via o melhor em mim e com ele aprendi a ver também. Nunca mais soube dele, só tenho uma foto e um nome e a certeza de que eu mereço mais do que os homens que conheci me ofereceram. Eu mereço mais que as falsas promessas que me fizeram.
Tenho o direito de sonhar, e de firmar meus pés no chão. De me olhar no espelho e gostar dos meus traços, dos meus olhos pequenos, dos meus lábios, do meu sorriso. Direito de sorrir pra mim no espelho, de andar na rua e de lançar olhares quando quero, prendendo atenção de alguns as vezes.
Não quero viver da saudade que sinto daqueles dias de 2000, nem do quanto fui tola por deixá-lo ir, mas eu tinha 12 anos, o que se pensa ou se espera nessa idade?
Os homens que passaram por minha vida depois disso só me mostraram o pior do mundo, das pessoas. Fizeram eu odiar minha imagem no espelho, me achar pouco demais, menos do que nada. E eu acabei acreditando neles e me tornando digna de pena alheia.
Mas ainda há tempo pra reverter a situação, virar o jogo e voltar a acreditar no que me diziam aqueles olhos castanhos, naquela época eu não sabia, mas hoje, quando olho para a fotografia amarelada descubro que tudo que eles tentavam me dizer era "Você merece ser feliz!".
Levei 10 anos pra compreender, mas antes tarde que nunca. Se eu pudesse dizer algo a ele, citaria a ele uns versos mais ou menos assim

"De todos os que me beijaram
De todos os que me abraçaram
Já não me lembro e nem sei
São tantos os que me amaram
São tantos os que eu amei
Mas tu que jamais me beijaste
Tu que jamais abracei
Só tu que nesta alma ficaste
De todos os que eu amei."

Não vai ser fácil esse exercício, mas vou me esforçar por um único motivo: eu acredito no que os teus olhos me disseram. E só.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Notas sobre a ditadura cultural

Francamente o que me levou a escrever hoje foi uma situação, ou situações, que tenho remoído a dias. Trata-se do quanto é chato, para não dizer insuportável, o modo como as pessoas praticam o que eu chamo de extremismo cultural.
Frequentemente eu e muita gente tem que ouvir que quem gosta de uma coisa não pode gostar de outra. Como se ouvir Beatles te proibisse de ouvir Calypso e coisas afins. Eu me ponho a pensar então onde está escrito uma patota dessas? Em algum manual de como ser um intelectual medíocre metido a saber o que é bom ou ruim para as pessoas, talvez. Uma informação adicional é necessária: o que temos a ver com o que o outro ouve, lê, pensa, vê, compra?
Seria legal deixar de hipocrisia e de pensar que todo mundo que ouve música Sertaneja é imbecil ou que quem dança tecnobrega não tem nada na cabeça, não tem cultura, como dizem "popularmente". Meus caros, todo mundo tem cultura, todo mundo vive em sociedade, apenas alguém totalmente isolado de qualquer vestígio de civilização, até mesmo da convivência com animais está dentro do seleto grupo de pessoas ditas "sem cultura".
Como seria bacana se antes de apontarmos nossos dedinhos sujos para a face do colega, pensássemos que se queremos ter direito a liberdade de expressão devemos começar respeitando o espaço do outro. Não se pode obrigar alguém a viver sob nossa tutela, pensando o que queremos que pense, ouvindo o que queremos que ouça, lendo apenas o que é dito "intelectual" ou, para mim, metido a  intelectual.
Vamos cometer o mesmo erro dos Padres Jesuítas que, ao chegarem ao Brasil tentaram "catequizar" os povos indígenas que já viviam aqui a séculos?
Os "pequenos ditadores" dentro da gente vivem gritando, tentando impor nossa lógica, ótica e visão de mundo a outras pessoas, mas o que custa refletir um tiquinho antes de sair por aí "dizimando" a cultura alheia.
As pessoas tem o direito de ouvir Calypso, gostar de Novela Mexicana, achar o Dado Dolabella ótimo ator, ter um visual emo, ler livros do Paulo Coelho e milhares de outras coisas em paz. Ninguém é obrigado a gostar também, mas uma coisa somos todos obrigados a RESPEITAR as escolhas, gostos e opiniões alheias. Isso, se alguém já se esqueceu, se chama DEMOCRACIA! E se continuarmos agindo como ditadores, jesuítas e nazistas como o próximo essa palavra vai deixar de existir, dando lugar ao que chamo de MEDIOCRACIA, terra de ninguém, aliás, terra de medíocres!

PS: Inventaram fones de ouvido, uma das grandes invenções da humanidade. Uma ajudinha básica para diminuir os atos terroristas contra os "gostos" alheios.

Ps 2:  Eu não curto Calypso ou Nx Zero, mas nada contra quem curte.

É isso. Um beijo especial pro Dani, 6 meses mais longos que já vi, longe do meu amigo adorado!