domingo, 30 de janeiro de 2011

Planos


Veja como são as coisas. Sempre fiz planos, tive sonhos, idealizei tantas coisas. Você chegou e mudou tudo. Trouxe consigo novos sonhos, novos planos. Ficou tudo diferente. Claro, vieram novas preocupações, medos, ansiedade, saudades. Uma vitamina de sentimentos, de sensações. Tudo novo.
Agora alguém divide tudo isso comigo. Se relacionar é isso, mais ou menos isso. Dividir, somar, multiplicar. Tudo que eu queria agora era subtrair, subtrair de mim essa saudade imensa do simples toque da sua mão, do brilho dos seus olhos castanhos que me fitavam por longos minutos, sem dizer uma palavra.
Hoje sei que não havia amado antes de conhecer você, que tudo aquilo que eu imaginava ser amor devia ser qualquer coisa, mas amor, amor mesmo, não era. Isso eu tenho certeza.
Na saudades a gente percebe quanto tempo perdeu de cara emburrada, que sejam dez minutos, mas são 10 minutos ao lado daquela pessoa que não se tem mais. Aprender a valorizar. Aprender a amar o suficiente pra que a simples existência de alguém, mesmo distante, em algum lugar, faça do mundo um lugar melhor, dêem um motivo real pra que, finalmente, faça-se planos esperando cumprir. Deite-se na cama e pense nele, que agora é menos um dia. Melhor pensar assim. Saudade que não sai de mim e no rádio Pink Floyd insiste em "How wish you here" adivinhando meu tom melancólico e saudosista. Eu queria, queria que você estivesse aqui, mas espero, espero por você, pra não precisar mais dizer adeus. Meu plano hoje é você e eu.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O proibido


Curioso como não consigo gostar de gente extremamente boa, impecável, totalmente justa, imparcial que não comete (ou demonstra não cometer) um errinho sequer. Essas pessoas me dão preguiça, me dão uma impressão clichê da vida, francamente eu tento evitar.

Mocinhas do cinema, da TV um dia tiveram seu fascínio, até mesmo as mocinhas da literatura tiveram. Um dia elas encantaram os olhares alheios. Hoje são mera história coberta de água com açúcar, melodrama, figurinha repetida.

Não é a toa que meu personagem masculino favorito na literatura teria todas as características de um ogro, talvez primo ou irmão de um, mas não me atenho a isso, o que  me fascina imensamente suas características humanas.

Assim fica nítido que gosto do que errado, do que é incerto. Talvez, nem sempre, creio eu. Mas há um brilho especial no diferente que misteriosamente me atrai, me procura e acabo me rendendo algumas vezes a ele. Não que eu torça pelas Clara, Bia Falcão ou Flora em finais de novela. Ou que tenha apenas olhos para o que é mal. Aliás, vejo com certa ressalva o bem e o mal. Mas um pouquinho de malícia aqui e acolá tem seu charme, em doses quase homeopáticas faz bem a saúde.

O que mais me irrita em mocinhas novelescas é essa tal falta de humanidade. É preciso que exista o erro, a falha, a mudança, o desejo, o mistério. Acho que essa é a graça de tudo e por isso que evito a televisão, preciso de altas doses diárias de realidade, de pessoas como eu, humanas, limitadas, imprevisiveis.

Porém, faço a ressalva de que é preciso não perder a ternura, um "cadinho" de doçura, certa porção de ingenuidade pra equilibrar. Isso! Equilíbrio!

Nem sempre é ruim dar uma mordida na maçã e experimentar novas emoções.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A pequena guerreira solitária


Ela nasceu numa tarde de abril, logo seus cachos castanhos foram aparecendo e seus pés ganharam a firmeza necessária para que conseguisse andar. A primeira neta, a primeira filha, tinha tudo pra ser maravilhoso, pra ser imensamente amada. Mas aos cinco anos de idade ela descobriu o que é estar sozinha no mundo, aprendeu a se virar, a andar com as próprias pernas, a vibrar sozinha com suas pequenas vitórias, a chorar num canto escondida, aprendeu o que era saudade, saudade de como era sua vida antes de tudo aquilo. Agora não existia apenas ela, havia outra que agora faziam todos se esquecer que a menina dos cachinhos existia, que precisava de afago, proteção. Eles diziam que ela era forte, que não precisava deles, mas não é verdade. Ela cai, se levanta, tenta fazê-los enxergar que ela está ali, mas ninguém vê, ninguém sente, ninguém ouve... "Você já está mocinha." diziam eles. "Você não precisa mais disso." repetiam constantemente. Então a vida foi mostrando que ela podia conseguir sem eles. Ela lutou, fez das tripas coração, varou madrugadas estudando, deixou de ter sua infância, sua adolescência. Lhe roubaram essa chance sem dó nem piedade. Quando a luz se apagava, ela chorava agarrada á boneca com a qual não podia brincar, sonhava com uma infância que apenas a outra podia ter. O que ela desejava dinheiro algum podia comprar, era amor, carinho, atenção. Mas isso era direito negado, ela possui apenas o dever de baixar a cabeça. Que culpa tinha aquela pobre criança de ter nascido saudável? Merecia ela esse destino? Viver sem ser notada, chorar sem ser ouvida, sofrer calada. O tempo foi passando, ela deixou a muito tempo de ser uma criança, ela tenta ser forte, mas existe uma criança aprisionada dentro dela, trancada a sete chaves. A criança grita, pede piedade, mas o poço vai ficando mais fundo, e cada vez menos é possível ouvir o eco de seus lamentos.
Hoje, mulher que é, ela ainda sonha em passear pelo parque, comprar algodão doce e que seu pai empurre seu balanço, sonha com tão pouco : amor, carinho e atenção, tudo aquilo que lhe foi negado por quase uma vida.