sexta-feira, 9 de março de 2012

Breve tratado sobre o sofrimento humano


"Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima...", bradam insistentemente os clichês que (infelizmente) nos rondam. Seja pelas redes sociais, seja pela vida a fora. Sempre tem um pra negligenciar a dor alheia. Dizer, por exemplo, que "A vida é assim, José.". Isso me lembrou um texto que li numa das aulas da faculdade. As pessoas se atribuem constantemente o rótulo de "empáticas" tal qual o uso extremo que fazem da "virtude" humildade.

Sofreu? Simples? Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!

Veja bem que receita fácil.

Está sofrendo? Esquece. Passe uma borracha. Coloque um batom vermelho, caia na gandaia. Se é por amor, homem tem muito por aí. Pra que sofrer?

Pra que?

E isso pode ajudar alguém? Talvez. Mas eu nunca soube.

Penso que as pessoas deviam ter direito a sofrer, a chorar, a ficar tristes. Nossos dias não são um circo, um riso constante, uma alegria gritante e espalhafatosa. Todo mundo sofre.

Veja bem, andei pensando e cheguei a conclusão de que  não só a felicidade alheia incomoda, como também a infelicidade.

Além de ter que engolir o choro, fazer caras e bocas, ainda é preciso tolerar meio mundo dando receitas infalíveis (não solicitadas) sobre sua vida. Pra evitar, ou ao menos tentar, seja um pouco mais discreto em relação ao que sente, seja riso ou choro, desespero ou alegria. Saiba resguardar o que considerar importante. Pois se você bradar aos quatro ventos, fica difícil reclamar de possíveis intromissões alheias.

Não grites seu infortúnio ou glória. Afinal, tudo que é gritado acaba incomodando os vizinhos e dando a eles a falsa sensação de que já que possuem acesso ao seu estado emocional, podem também dar palpites e receitas milagrosas. Procure não pintar seu sofrimento em outdoors. Ter amigos, com quem desabafar é bom, mas nem todos estão preparados ou querem esse fardo. Você não precisa sofrer sozinho.

Está sofrendo? Viva, sinta, reflita. Mas não negligencie a si mesmo ou deixe que os outros tentem fazê-lo. Um carinho e um pouquinho de cuidado com nós mesmos nunca é demais.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Você jogou fora...

Longe de mim querer dar lição de moral ou dizer que tuas últimas decisões foram as erradas. Só que não posso me calar diante dos fatos. Você já se olhou no espelho hoje? Viu o quanto está mudada? Pois eu vejo nos seus olhos chorosos que insistem em tentar enganar a todos, aquilo que você mesma sempre soube. Na busca por adrenalina você deixou aí em algum lugar, perdido, jogado num canto aquele amor que sentia por ele. Você apenas abriu mão, quis seguir seu caminho. É totalmente aceitável, acredite. Mas veja bem, você não me parece feliz. E embora eu não possa conhecer teus pensamentos ou estar ao teu lado nas noites solitárias, sei que você o lembra, sente falta daquele amor que a algum tempo atrás gritava aos quatro ventos, eu sei que não acabou.

Mas você insiste em disfarçar com maquiagem aquela beleza natural que ele tanto admirava em você. Não sei se é cedo ou tarde, mas me pego pensando se algum dia vai sentir aquele frio na barriga novamente, se vai novamente se apaixonar. Provavelmente sim. Será correspondida, talvez. O que me intriga realmente é não saber como seria se tudo fosse diferente. Se você não tivesse jogado tudo no lixo pra viver um carnaval eterno em uma época em que o que as mulheres mais desejam flores, declarações. Você tinha o amor e isso me faz pensar como aquela canção "Será que amar é mesmo tudo?".

Talvez eu esteja sendo simplista, onde fica a liberdade? Talvez ela seja mais importante pra você. Não sei. Só sei que não é isso que vejo em teus olhos quando o vê passar ou quando alguém pergunta dele. Seus olhos ficam desbotados e inundados de uma tristeza tão cortante quanto uma navalha afiada. Mas não há lágrimas, talvez por que você aprendeu a controlá-las, talvez por que elas não sejam necessárias, talvez por que elas secaram....

Eu sei que você ainda se lembra de como foi bom se apaixonar por ele, como foi fácil, natural. E assim, naturalmente, o caminho de ambos se separou. Talvez eles se cruzem novamente, talvez agora você esteja na varanda olhando o trânsito agitado da metrópole com seus fones de ouvido, ouvindo uma banda melosa, ou alguma música dos Beatles que ele gostava, quem sabe "Yellow Submarine". Você ganhou o mundo, as festas, bebedeiras, os risos, escolheu outros corpos, outras bocas, mas em sua alma sabe que ainda lembra com ternura daquele cara que tinha tudo pra ser o errado, mas que te fazia sentir como a pessoa certa pra ser feliz no mundo.

Fico pensando se talvez agora, depois de talvez ler minhas palavras, você engula o orgulho e atenda o telefone ou lhe mande um sms. Talvez haja outra chance. Ou talvez não. Só queria ver novamente aqueles olhos risonhos, aquele sorriso contido e não o que tenho em minha frente: alguém se cor, sem chão.