segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Das coisas que ficam


Recordar é viver, já dizia o poeta. Mas viver preso a recordações é aprisionar-se nas grades do passado, onde não se consegue enxergar o futuro, a não ser por umas frestas de luz. Mas tem certas coisas que ficam, certas coisas que marcam e que não se apagam da memória.
Eu achei a foto do meu primeiro amor, dentro de um caderno, nem ele sabe que tenho essa foto. Acho que foi o sentimento mais doce e puro que eu já vivi, da forma mais inocente, a forma como me olhava, como me sentia protegida só com aquele olhar carinhoso dele... Passou, eu tinha 12 anos, e de lá pra cá se foram mais quase 10 anos, mas eu não quero rasgar a foto, ou simplesmente jogar fora, ela faz parte de um passado que eu quero lembrar, quero nunca esquecer que eu mereço sim ser amada, que eu mereci cada olhar terno e amoroso que recebi dele e que mesmo sendo uma criança naquela época, ele via o melhor em mim e com ele aprendi a ver também. Nunca mais soube dele, só tenho uma foto e um nome e a certeza de que eu mereço mais do que os homens que conheci me ofereceram. Eu mereço mais que as falsas promessas que me fizeram.
Tenho o direito de sonhar, e de firmar meus pés no chão. De me olhar no espelho e gostar dos meus traços, dos meus olhos pequenos, dos meus lábios, do meu sorriso. Direito de sorrir pra mim no espelho, de andar na rua e de lançar olhares quando quero, prendendo atenção de alguns as vezes.
Não quero viver da saudade que sinto daqueles dias de 2000, nem do quanto fui tola por deixá-lo ir, mas eu tinha 12 anos, o que se pensa ou se espera nessa idade?
Os homens que passaram por minha vida depois disso só me mostraram o pior do mundo, das pessoas. Fizeram eu odiar minha imagem no espelho, me achar pouco demais, menos do que nada. E eu acabei acreditando neles e me tornando digna de pena alheia.
Mas ainda há tempo pra reverter a situação, virar o jogo e voltar a acreditar no que me diziam aqueles olhos castanhos, naquela época eu não sabia, mas hoje, quando olho para a fotografia amarelada descubro que tudo que eles tentavam me dizer era "Você merece ser feliz!".
Levei 10 anos pra compreender, mas antes tarde que nunca. Se eu pudesse dizer algo a ele, citaria a ele uns versos mais ou menos assim

"De todos os que me beijaram
De todos os que me abraçaram
Já não me lembro e nem sei
São tantos os que me amaram
São tantos os que eu amei
Mas tu que jamais me beijaste
Tu que jamais abracei
Só tu que nesta alma ficaste
De todos os que eu amei."

Não vai ser fácil esse exercício, mas vou me esforçar por um único motivo: eu acredito no que os teus olhos me disseram. E só.

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