sábado, 7 de maio de 2011

Como cães e gatos

Somos clichês, precisamos admitir. Cães e gatos da ficção transpostos para a realidade nua e crua. Disparamos nossas armas em um duelo que termina quando nos damos conta do quão tolos acabamos sendo boa parte do tempo. Aí viramos bichos fofinhos e manhosos que querem apenas colo, carinho, proteção. Nos aconchegamos um no outro, buscamos refúgio de nós mesmos.

Somos previsíveis como os casais clássicos de novela das 7, das tramas de Walcyr Carrasco, das comédias românticas hollywoodianas. Toda essa previsão tem algo a ver com nossa boa dose de humanidade.

Fizemos de nossas provocações um esporte extremamente competitivo, digno de Olimpíadas diárias. Cutuca daqui, retruca de cá e pronto: está armado o circo. Quem é mais palhaço aqui? Eu ou você? A quem queremos enganar com nossos personagens? Eles não condizem com a gente. Não transparecem o que na verdade somos, nossa essência, nosso segredo mais íntimo.

Guardado a sete chaves está nosso amor, intacto, inviolável, oculto por nossa trama enfadonha, agora não mais tão engraçada assim. Acaba ficando clichê além da conta. Volta e meia precisamos recorrer a nós mesmos, nos amar loucamente, nos entregar plenamente. Depois voltamos à cena. Dois bobos da corte fazendo papel de cão e gato para tentar amenizar e tornar mais tolerável o dia-a-dia. Às vezes um pouco de clichê é útil, nos ajuda a fugir desse fantasma que insiste em nos assombrar: a rotina. Essa sim está à espreita, é a setença de morte e anuncia o prazo de validade do amor.

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