quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A pequena guerreira solitária


Ela nasceu numa tarde de abril, logo seus cachos castanhos foram aparecendo e seus pés ganharam a firmeza necessária para que conseguisse andar. A primeira neta, a primeira filha, tinha tudo pra ser maravilhoso, pra ser imensamente amada. Mas aos cinco anos de idade ela descobriu o que é estar sozinha no mundo, aprendeu a se virar, a andar com as próprias pernas, a vibrar sozinha com suas pequenas vitórias, a chorar num canto escondida, aprendeu o que era saudade, saudade de como era sua vida antes de tudo aquilo. Agora não existia apenas ela, havia outra que agora faziam todos se esquecer que a menina dos cachinhos existia, que precisava de afago, proteção. Eles diziam que ela era forte, que não precisava deles, mas não é verdade. Ela cai, se levanta, tenta fazê-los enxergar que ela está ali, mas ninguém vê, ninguém sente, ninguém ouve... "Você já está mocinha." diziam eles. "Você não precisa mais disso." repetiam constantemente. Então a vida foi mostrando que ela podia conseguir sem eles. Ela lutou, fez das tripas coração, varou madrugadas estudando, deixou de ter sua infância, sua adolescência. Lhe roubaram essa chance sem dó nem piedade. Quando a luz se apagava, ela chorava agarrada á boneca com a qual não podia brincar, sonhava com uma infância que apenas a outra podia ter. O que ela desejava dinheiro algum podia comprar, era amor, carinho, atenção. Mas isso era direito negado, ela possui apenas o dever de baixar a cabeça. Que culpa tinha aquela pobre criança de ter nascido saudável? Merecia ela esse destino? Viver sem ser notada, chorar sem ser ouvida, sofrer calada. O tempo foi passando, ela deixou a muito tempo de ser uma criança, ela tenta ser forte, mas existe uma criança aprisionada dentro dela, trancada a sete chaves. A criança grita, pede piedade, mas o poço vai ficando mais fundo, e cada vez menos é possível ouvir o eco de seus lamentos.
Hoje, mulher que é, ela ainda sonha em passear pelo parque, comprar algodão doce e que seu pai empurre seu balanço, sonha com tão pouco : amor, carinho e atenção, tudo aquilo que lhe foi negado por quase uma vida.

Um comentário:

  1. O melhor é sempre deixar que a criança aprisionada veja ao menos o brilho do sol.
    Saudade dos teus textos
    Beijo.

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